Já fazia tempo que não escrevia nada aqui mas hoje ao voltar do trabalho para casa e como de costume ouvindo as notícias na Rádio TSF fiquei indignado com uma história e decidi escrever.
O cadáver de uma mulher foi encontrado nove anos depois de ter morrido no apartamento em que vivia sozinha, em Rio de Mouro, uma cidade próxima a Lisboa, localizada no conselho de Sintra.
Se não fossem as Finanças (equivalente a nossa Receita Federal em Portugal) provavelmente levaria ainda mais tempo para descobrir o cadáver que jazia há nove anos no chão da cozinha do apartamento em que vivia. Devido a uma dívida por liquidar houve uma ordem de execução de uma penhora e a sua casa havia sido vendida em leilão. No local estava, além da polícia, um funcionário das Finanças, a nova proprietária do apartamento que o ia visitar pela primeira vez e um serralheiro que iria arrombar a porta e colocar uma nova fechadura.
Ao contrário do esperado, a porta não abriu totalmente. Havia uma corrente de segurança que o impedia e a suspeita de que algo de errado se passava.
No chão da cozinha do apartamento, encontraram o corpo em avançado estado de decomposição e seus animais de estimação, um cão e dois pássaros mortos na varanda.
De concreto, sabe-se apenas que há muitos anos a senhora deixou de ser vista e que pagou o condomínio pela última vez em Agosto de 2002, nove anos atrás.
A vizinha chegou a informar a polícia do seu desaparecimento mas disseram que não poderiam chegar e abrir a porta, desse modo nada foi feito. A vizinha ainda procurou alguém da família da senhora e conseguiu encontrar cinco sobrinhos que não tinham contato com a tia e um primo.
Fiquei transtornado ao ouvir a notícia, como pode uma pessoa passar nove anos sem que nenhum familiar procure por ela, que isolamento é esse que vivemos. Criamos tecnologias que fizeram o mundo se tornar uma grande aldeia global mas esquecemos da nossa aldeia local, causando isolamento e solidão.
Portugal possui uma sociedade em vias de envelhecimento, uma das mais envelhecidas do mundo e penso que assim como esta senhora há muitas outras pessoas a viverem sozinhas e que podem ter o mesmo triste final.
Uma ironia do destino fez com que o caso tivesse repercussão na mídia portuguesa, seja nos jornais, rádios e televisão, alguém que viveu tão só nunca deve ter imaginado uma morte tão pública.
A senhora tinha 87 anos quando faleceu, mais 9 anos passados no chão da cozinha, foi abandonada na vida e na morte.
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