Artigo de Horácio Piriquito, publicado no jornal Oje de Portugal.
QUE Têm a economia e as empresas a aprender com os artistas do futebol, ao mais alto nível? Muito. As estrealas da bola vivem de esforço, ambição, competição e risco. E mão podem conviver com nenhuma das características que mais marcam a nossa sociedade: laxismo, facilitism, emprego garantido, dependência ou acomodação. O futebol tem a melhor e mais perfeita “grelha social” de valorização do trabalho e do mérito. E isso nunca foi reconhecido. Só consegue ser permiado quem tiver realmente valor. Só no futebol é possível identificar e valorizar um jovem talento, por mais afastado que ele esteja das grandes macrocefalias, e desenvolve-lo até o limite do seu potencial e competências. Não há outra zona da sociedade tão perfeita nesta matéria. Era impossivel que Ronaldo continuasse ainda hoje a jogar anónimo na Madeira. Ou que Futre nunca tivesse saído do Montijo, que Simão ainda estivesse em Viseu, Rui Costa na Amadora ou Figo no Laranjeiro. Em quantas actividades temos esta eficiência ou mesmo justiça social?
Vamos às empresas. Quantos gestores de topo – artistas da gestão, dizem-se! – sentem o seu lugar conquistado pelo mérito e são reconhecidos por isso? Conseguirão eles demonstrar que entre as dezenas ou centenas dos seus colaboradores, ou mesmo no mercado, não existem muitos outros capazes de fazer melhor? Mas que nunca terão essa possibilidade! No futebol, isso não é possivel! Também os treinadores, líderes de equipas e gestores de recursos humanos, como Scolari, Mourinho ou Jorge Araújo, têm hoje muito para ensinar nas empresas.
Por muito que se considere que no mundo empresarial Alta Gestão é sinônimo de Alta Competição, não são nada a mesma coisa. O futebol faz quase sempre justiça até nos salários milionários que paga. Um artista da bola não consegue manter indefinidamente o seu patamar e prestígio se não o justificar todas as semanas perante milhões de pessoas. Quantos gestores, que até se blindam no seus cargos, para se perpetuarem no poder, podem garantir que o salário ou o prêmio anual corresponde exactamente ao seu valor? Mais: a exposição pública dos profissionais do futebol é tremenda e a pressão dos media é brutal. Quantos gestores de topo resistiriam emocionalmente se tivessem durante 24 horas por dia a sua vida pessoal e profissional exposta ao grande publico de forma não autorizada, TVs à porta ou jornalistas residentes no auditorio interno da empresa?
O mundo fantástico do futebol, apesar do mau momento e dos maus dirigentes, é o exemplo que a sociedade portuguesa deveria absorver nas esferas do risco, da pressão e da ambição. O seus artistas estão habituados a lidar com a vitória e com a derrota! Com planificação, método, definição de objectivos e esforço para os atingir. O futebol tem tudo aquilo que a sociedade portuguesa necessita. Com urgência! Uma palavra final para os mais atentos: estive sempre a falar dos artistas da bola, não dos dirigentes!
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